terça-feira, 15 de março de 2011

I Mostra de Direito à Memória e à Verdade – A Ditadura no Brasil

Quem transita pelos corredores da URI, mais especificamente no prédio 9, se defronta a uma exposição que remonta aos tempos da ditadura no Brasil. Essa exposição tem como objetivo recuperar e divulgar o período da ditadura militar vividos em nosso país, 1964-1985, por meio da exposição de fotos que registram um passado marcado pela violação dos direitos humanos. Ícones de nossa cultura, exemplos claros de abusos à democracia são exemplos marcantes na exposição.
A repressão demonstrada nos banners, onde manifestantes
reunião-se aos milhares demonstrava o crescimento das ideias intelectuais do brasileiro nas décadas de 60 e 70. Repressões ocorreram em todos os locais, até mesmo em nossa inerte cidade.
Pensando pelo lado da intelectualidade das novas gerações brasileiras, nos deparamos com o atraso causado por uma educação sistemática que privava seus educandos de qualquer pensamento crítico, o que comprova a tese onde se afirma que a manipulação popular se faz pela falta de conhecimento de seu meio.

Lutamos para que nossa história não seja esquecida, o esquecimento faz o homem repetir os mesmos erros.


Exemplo da força pensante da época, Chico Buarque de Holanda, driblava a censura com suas palavras.

Cálice

Composição: Chico Buarque e Gilberto Gil

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...(2x)

Como beber
Dessa bebida amarga
Tragar a dor
Engolir a labuta
Mesmo calada a boca
Resta o peito
Silêncio na cidade
Não se escuta
De que me vale
Ser filho da santa
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos morta
Tanta mentira
Tanta força bruta...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Como é difícil
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

De muito gorda
A porca já não anda
(Cálice!)
De muito usada
A faca já não corta
Como é difícil
Pai, abrir a porta
(Cálice!)
Essa palavra
Presa na garganta
Esse pileque
Homérico no mundo
De que adianta
Ter boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Talvez o mundo
Não seja pequeno
(Cale-se!)
Nem seja a vida
Um fato consumado
(Cale-se!)
Quero inventar
O meu próprio pecado
(Cale-se!)
Quero morrer
Do meu próprio veneno
(Pai! Cale-se!)
Quero perder de vez
Tua cabeça
(Cale-se!)
Minha cabeça
Perder teu juízo
(Cale-se!)
Quero cheirar fumaça
De óleo diesel
(Cale-se!)
Me embriagar
Até que alguém me esqueça
(Cale-se!)

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